Pesquisa revela: preconceito e discriminação interferem na contratação de negros
sexta-feira, 29 / julho / 2011
Por Denise Porfírio
Uma análise da “Pesquisa das Características Étnico-Raciais da População: um Estudo das Categorias de Classificação de Cor ou Raça” divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na última semana, aponta que 71% dos entrevistados declaram que a cor da pele interfere na hora de procurar emprego e nas oportunidades de ascensão nas empresas. Aproximadamente 15 mil domicílios nos Estados do Amazonas, Paraíba, São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Distrito Federal foram observados pelo exame elaborado com base em informações coletadas em 2008.
Outra conclusão do estudo foi que 96% das pessoas afirmam ter conhecimento sobre a própria cor ou raça. Ao serem indagados com direito de resposta livre e autodeclaratória, 65% dos entrevistados utilizaram uma das cinco categorias de classificação do IBGE: branca (49,0%), preta (1,4%), parda (13,6%), amarela (1,5%) e indígena (0,4%). Denominações como “morena” (21,7%, incluindo variantes “morena clara” e “morena escura”) e “negra” (7,8%) também foram mencionadas.
O Distrito Federal foi a unidade da federação que declarou o maior percentual de respostas afirmativas de que a raça e a cor têm influência (77%), o menor resultado foi registrado no Amazonas (54,8%).
O presidente da Fundação Cultural Palmares, Eloi Ferreira de Araujo acredita que as contribuições de programas de ação afirmativa podem mudar esse cenário de desigualdades e reparar as distorções raciais e discriminatórias ainda arraigadas nas esferas públicas e privadas. “Mesmo diante de todas as evidências sobre a necessidade da inclusão da população negra na sociedade, ainda existe bastante resistência para tal feito. É preciso valorizar a legislação que temos em mãos estabelecendo a igualdade de oportunidades e dando voz à regulamentação e implementação do Estatuto da Igualdade Racial”.
DESIGUALDADE – Segundo a Pesquisa de Emprego e Desemprego do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), a diferença salarial entre trabalhadores negros e brancos é de R$ 7,61 a hora. Os brancos recebem, em média, R$ 20,00 por hora e os negros, apenas R$ 12,40.
No caso das mulheres, o próprio Ministério do Trabalho, por intermédio da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2010, não deixa dúvidas: as pretas tiveram a menor média salarial: R$ 944,53; as pardas, R$ 1.001,52 e as brancas R$ 1.403,67. De acordo com o Censo 2010 do IBGE, 50,7% da população brasileira se autodeclaram preta e parda.
OUTROS INDÍCES – O perfil das pessoas pesquisadas corresponde à idade entre 25 e 39 anos. As perguntas feitas também levantaram informações sobre educação e inserção ocupacional do pai e da mãe da pessoa entrevistada. Nas respostas, situações em que a cor ou raça é determinante na vida das pessoas aparecem nas seguintes posições: a relação com “Justiça/Polícia” foi citada por 68,3% dos entrevistados, seguida por “Convívio social” (65%), “Escola” (59,3%) e “Repartições públicas” (51,3%).
O IBGE também revela que a taxa de desemprego tem diminuído ao longo dos últimos nove anos e chegou a 6,2% em junho de 2010 – a menor para o mês desde 2002. No mesmo período, as mulheres encontraram mais dificuldade em ocupar cargos e, quando conseguiram, ocuparam postos considerados inferiores. Segundo a Pesquisa Mensal de Emprego, o índice de desocupação é de 5% entre os homens, mas salta para 7,6% entre as mulheres. O salário médio deles, de R$ 1.770,40, é 40,8% superior ao delas, de R$ 1.257,10.
DADOS INÉDITOS – É a primeira vez que o IBGE revela dados subjetivos sobre a influência da cor/raça na vida dos brasileiros. Os métodos de pesquisa da instituição costumam se basear em questões mais concretas, como renda, saneamento ou economia.
Segundo Ana Sabóia, chefe da Divisão de Indicadores do IBGE e coordenadora-geral da pesquisa, os dados não podem dizer se o brasileiro acredita que há preconceito pela cor ou raça. “Não se pode afirmar isso. A pergunta foi direta, se a cor ou a raça influencia na vida. A gente não perguntou se isso era positivamente ou negativamente”, afirma.
Confira a pesquisa na íntegra.
Fontes: IBGE, Portal Atento
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